Já há bastante tempo conheço essa carta, e seu conteúdo sempre me emocionou muito, não apenas pelo dilema amoroso que o compositor vivia, mas também pela universalidade de suas reflexões, em alguns momentos até mesmo existenciais (exatamente considero um conteúdo um tanto mais adulto, e por isso trouxe pra cá). A escolhi, portanto, para iniciar uma playlist de Cartas de Amor, que pretendo rechear com correspondências amorosas de grandes figuras da história e da arte. Espero que apreciem também. Aproveito para agradecer à Tâmara Cruz que, lá no Serenissima, certa vez pediu cartas de amor de compositores, ajudando a plantar essa ideia.
Ludwig van Beethoven (1770-1827), um dos maiores compositores de todos os tempos, nunca se casou, mas teve diversos interesses amorosos ao longo da vida, registrados por cartas e relatos. Quando ele faleceu, foi encontrado em meio a seus documentos pessoais uma carta em três partes, sem indicação de ano ou remetente, destinada a sua "Amada Imortal". Não se sabe o motivo de as cartas não haverem sido enviadas.
Exaustivos debates entre estudiosos do compositor ocorreram ao longo do século XX sobre esta carta, para determinar a data e, o mais importante, a identidade da mulher. Hoje já não há mais dúvida sobre o ano - 1812 -, mas a identidade dela ainda causa discussões. Apesar disso, mais recentemente os musicólogos parecem convergir cada vez mais na opinião de que muito provavelmente se trate da Condessa Josephine Brunsvik (1779-1821).
Existem outras 15 cartas de Beethoven a ela, além de relatos de familiares dela e pessoas próximas, que levam a crer que os dois mantiveram um relacionamento intenso, apesar de distante, e que ela teria sido o grande amor da vida do compositor. Sendo ela de origem nobre, havia uma grande pressão familiar para que ela não se envolvesse com pessoas "comuns". Além disso, ela era uma jovem viúva com filhos à época do início do romance clandestino com o compositor, e havia também uma preocupação sua em relação à guarda de seus filhos, que se relacionava, naquele contexto, com uma espécie de "manutenção da honra" pessoal e do nome da família. Mais tarde ela viria a casar-se novamente e ter mais filhos, totalizando 8 deles, e teve um final de vida bastante triste, essencialmente abandonada pelo marido e pela família.
Naqueles dias, Beethoven estava no balneário tcheco de Tepliz, por recomendação médica, e provavelmente endereçava a carta a Karlsbad (referida na carta pela letra K.), onde sua amada estaria, em viagem por aqueles dias.
O texto da carta revela uma alma atormentada não só pela paixão que não podia ser consumada cotidianamente, mas também pela instabilidade de vida como um todo, tecendo mesmo rápidas considerações sobre a existência humana. Lembremos que o compositor, por essa época (42 anos de idade), já se encontrava virtualmente surdo. Ele começou a perder a audição por volta de 1800 (30 anos de idade), e o processo gradativo desta perda lhe trouxe diversas angústias ao longo dos anos seguintes - expressas em sua música e em documentos -, tendo ele pensado, inclusive, em suicídio. Daí compreende-se que naquele momento diversas angústias se abatiam sobre o compositor além da questão sentimental.
O filme "Minha Amada Imortal" (1994), teve seu roteiro baseado neste documento. SPOILER A SEGUIR: Trata-se de um filme belíssimo e enriquecer de várias maneiras, mas é importante frisar que a solução apresentada pelo roteiro acerca da identidade da amada imortal é, provavelmente, a mais absurda possível. No filme, a amada imortal seria a cunhada de Beethoven. O que se sabe, no entanto, é que o compositor nutria particular aversão a ela, devido a uma longa batalha judicial pela guarda de seu sobrinho (a qual ele ganhou), e que se referia comumente à cunhada como "Rainha da Noite", em referência à malévola personagem de "A Flauta Mágica" de Mozart.
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⭐ 🌜 Se você é novo aqui, talvez ainda não conheça o irmão mais velho deste canal, o Serenissima Notte:
https://www.youtube.com/serenissimanotte
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Música livre de direitos autorais:
Beethoven - Sonata Op. 81a, "Les Adieux", edição de trechos do primeiro e segundo movimentos. Intérprete: Boris Tcherchenko (live recording, 1952).
#Beethoven #AmadaImortal
Ludwig van Beethoven (1770-1827), um dos maiores compositores de todos os tempos, nunca se casou, mas teve diversos interesses amorosos ao longo da vida, registrados por cartas e relatos. Quando ele faleceu, foi encontrado em meio a seus documentos pessoais uma carta em três partes, sem indicação de ano ou remetente, destinada a sua "Amada Imortal". Não se sabe o motivo de as cartas não haverem sido enviadas.
Exaustivos debates entre estudiosos do compositor ocorreram ao longo do século XX sobre esta carta, para determinar a data e, o mais importante, a identidade da mulher. Hoje já não há mais dúvida sobre o ano - 1812 -, mas a identidade dela ainda causa discussões. Apesar disso, mais recentemente os musicólogos parecem convergir cada vez mais na opinião de que muito provavelmente se trate da Condessa Josephine Brunsvik (1779-1821).
Existem outras 15 cartas de Beethoven a ela, além de relatos de familiares dela e pessoas próximas, que levam a crer que os dois mantiveram um relacionamento intenso, apesar de distante, e que ela teria sido o grande amor da vida do compositor. Sendo ela de origem nobre, havia uma grande pressão familiar para que ela não se envolvesse com pessoas "comuns". Além disso, ela era uma jovem viúva com filhos à época do início do romance clandestino com o compositor, e havia também uma preocupação sua em relação à guarda de seus filhos, que se relacionava, naquele contexto, com uma espécie de "manutenção da honra" pessoal e do nome da família. Mais tarde ela viria a casar-se novamente e ter mais filhos, totalizando 8 deles, e teve um final de vida bastante triste, essencialmente abandonada pelo marido e pela família.
Naqueles dias, Beethoven estava no balneário tcheco de Tepliz, por recomendação médica, e provavelmente endereçava a carta a Karlsbad (referida na carta pela letra K.), onde sua amada estaria, em viagem por aqueles dias.
O texto da carta revela uma alma atormentada não só pela paixão que não podia ser consumada cotidianamente, mas também pela instabilidade de vida como um todo, tecendo mesmo rápidas considerações sobre a existência humana. Lembremos que o compositor, por essa época (42 anos de idade), já se encontrava virtualmente surdo. Ele começou a perder a audição por volta de 1800 (30 anos de idade), e o processo gradativo desta perda lhe trouxe diversas angústias ao longo dos anos seguintes - expressas em sua música e em documentos -, tendo ele pensado, inclusive, em suicídio. Daí compreende-se que naquele momento diversas angústias se abatiam sobre o compositor além da questão sentimental.
O filme "Minha Amada Imortal" (1994), teve seu roteiro baseado neste documento. SPOILER A SEGUIR: Trata-se de um filme belíssimo e enriquecer de várias maneiras, mas é importante frisar que a solução apresentada pelo roteiro acerca da identidade da amada imortal é, provavelmente, a mais absurda possível. No filme, a amada imortal seria a cunhada de Beethoven. O que se sabe, no entanto, é que o compositor nutria particular aversão a ela, devido a uma longa batalha judicial pela guarda de seu sobrinho (a qual ele ganhou), e que se referia comumente à cunhada como "Rainha da Noite", em referência à malévola personagem de "A Flauta Mágica" de Mozart.
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Música livre de direitos autorais:
Beethoven - Sonata Op. 81a, "Les Adieux", edição de trechos do primeiro e segundo movimentos. Intérprete: Boris Tcherchenko (live recording, 1952).
#Beethoven #AmadaImortal
CARTA À AMADA IMORTAL DE BEETHOVEN - Cartas de Amor - Leitura do texto completo 🎹 | |
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Entertainment | Upload TimePublished on 19 Aug 2018 |
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